13 de setembro de 2015

Distúrbio da Comunicação na fala - Luiza Gosuen

O distúrbio da fala é a dificuldade que a pessoa tem para pronunciar as palavras ou alguns fonemas com clareza e isso, nem sempre tem ligação com a capacidade de raciocinar. Esses distúrbios da linguagem podem ocorrer devido a problemas motores, traumatismo craniano, tumores cerebrais, perda auditiva, deficiência intelectual, acidentes graves com lesão cerebral,  acidente vascular cerebral, senilidade e demência.  

O desenvolvimento da linguagem é o que nos diferencia na categoria de seres inteligentes. Esse desenvolvimento obedece a estágios da comunicação oral e, quando ocorrem prováveis distúrbios, esses devem ser observados, avaliados e trabalhados antes que interfiram em outros estágios do desenvolvimento da criança.

Tudo começa logo que a criança nasce, onde a primeira comunicação se faz com a mãe através de estímulos visuais. Esse processo de comunicação vai se aperfeiçoando com o desenvolvimento motor, vivências e atividades da vida diária.

Algumas vezes esse processo não desenvolve adequadamente e para isso vamos ver como são as fases que se espera para atingir uma boa comunicação oral e, quando isso não ocorrer, temos como reverter muitos casos através de tratamentos com ajuda da psicologia, musicoterapia, fonética, linguística e fonoaudiologia, inclusive casos de acidentes graves onde adultos perdem a fala e precisaram passar por todo o processo de reaprendizagem da linguagem. 

A linguagem e a fala acontecem, geralmente, nos seguintes períodos:

• até 2 meses: choro reflexo e sons inexpressivos:
Considera-se, aqui, a atenção dada a essa criança, onde as pessoas que lhe são próximas devem conversam com o bebê, gesticulando, sorrindo, fazendo brincadeiras olhando nos olhos da criança e estimulando-a a acompanhar os movimentos.

• até 6 meses: sons monossilábicos e vogais:
Em muitos casos, a criança, ou já está num berçário, numa creche ou fica sob os cuidados de terceiros quando a mãe retorna ao trabalho. Esse é um momento importante onde podem surgir as primeiras alterações, caso essas pessoas responsáveis pela criança não a  estimulem como estava sendo feito até esse momento pelos pais. Porém, pode acontecer também com mães que não trabalham e que não estimulam  seu bebê, mantendo-o sempre dormindo ou no colo, sem brincar ou conversar com a criança.

• até 8 meses: sons polissilábicos e balbucios:
Esse momento é preciso, além de conversar, também interagir com o bebê. Deve-se apresentar objetos que emitam sons e movimentos para ativar a reação da criança que irá pedir "mais", bater palminhas, dar risadas, apontar para que seja repetido a brincadeira e irá tentar imitar os sons dos objetos ou da fala de quem está com ela.

• até 18 meses: primeiras palavras compreensíveis:
São usadas por volta de até 20 palavras.
Se não estiver acontecendo esses primeiros sons já é um sinal de que alguma coisa fora da normalidade está acontecendo. A estimulação pode estar inadequada ou se a criança não estiver apresentando interesse, deve-se investigar desde o nível audiométrico até o comportamento de quem cuida e também do ambiente em que o bebê fica durante todo o tempo. Normalmente em creches onde o número de crianças é grande, pode acontecer da criança que é mais tranquila ou que usa a chupeta o tempo todo, ficar esquecida na cadeirinha ou no berço em detrimento de outras crianças mais agitadas ou que choram muito para chamar a atenção.

• até 24 meses: são usadas poucas palavras-frase:
O vocabulário contendo aproximadamente 200 palavras é o esperado. As crianças conectam palavras em frases curtas.
Uma situação comum também e que pode alterar o quadro de desenvolvimento da linguagem nesse estágio é quando o bebê tem pais estrangeiros e cada um fala um idioma ou se expressam com sotaques, isso poderá retardar a emissão das primeiras palavras, sendo que muitas vezes a criança emite sons parecidos com o que os pais falam, porém sendo incompreensíveis.

• até 36 meses: formam sentenças combinando 3 a 5 palavras, e já usa algumas palavras no plural. 
Outras vezes, quando é perguntado algo à criança ela responde com a entonação que deveria, porém o que diz é um emaranhado de sons, ocorrendo apenas uma ou outra palavra que seria o esperado para aquela resposta.
Quando isso acontecer não devemos achar que é bonitinho e estimular a criança a falar assim, mas de maneira tranquila, parar o que estamos fazendo e ajudar a criança a formular a frase de maneira correta e repetir até que ela consiga corrigir falar o que está tentando expressar.

Quanto ao uso do plural, obtém-se sucesso começando com brinquedos iguais ou utensílios repetidos para que a criança possa perceber efetivamente o que é plural,  e sempre estimular a fala de maneira correta, falando pausadamente e olhando para a criança a fim de que ela possa perceber os movimentos de seus lábios e da língua quando na emissão do som.

• até 48 meses: clara sintaxe no falar, vocabulário de até 1000 palavras, fala completamente inteligível. Espera-se que a criança use 90% dos conceitos gramaticais corretamente.
Se isto não estiver ocorrendo é preciso conversar com os monitores ou professores da criança e levar para uma avaliação fonoaudiológica, onde será observado a degustação, dentição, respiração, posição da língua na hora da pronúncia, se está fazendo uso de chupeta e como é trabalhado a comunicação com essa criança.

Superando todas essas etapas, o desenvolvimento da fala estará pronto e se apresentará assim:

• aos 5 anos: repertório de 6000 a 10.000 palavras;
• aos 7 anos: reprodução correta de todos os sons da fala.

Esta não é uma regra rígida, podendo sofrer alterações de acordo com cada caso e, nem sempre o não acompanhamento do que é esperado será um transtorno; pode estar sofrendo outros tipos de acontecimentos no ambiente familiar ou escolar que deverão ser investigados, pois geralmente a criança passa a maior parte do dia nesses locais.

O desenvolvimento da fala e/ou linguagem diferencia-se em distúrbios orgânicos e não orgânicos. Nos orgânicos, ocorreria uma falha nos órgãos periféricos e/ou no sistema nervoso central. Já os não orgânicos envolveriam questões ambientais e emocionais.


Como já foi mencionado, os atrasos da linguagem podem ocorrer devido a vários problemas, entre eles podemos citar: retardo mental, perda auditiva, atraso na maturação, gagueira, desordem expressiva da linguagem (disfasia ou afasia), bilinguismo, autismo, mutismo seletivo (incapacidade de se expressar em determinadas situações por ansiedade ou medo), paralisia cerebral e privação psicossocial (descuido afetivo ou nutricional).

Estudos descrevem como sendo a perda auditiva e o retardo mental as duas causas mais freqüentes de dificuldade na aquisição da linguagem e/ou fala.


Quando for observado qualquer distúrbio da fala é necessário uma avaliação minuciosa e precoce de todos os fatores que possam estar relacionados à instalação dessa alteração, para um diagnóstico etiológico adequado. 
Neste contexto, o papel do otorrinolaringologista, fonoaudiólogo e do psicólogo é fundamental para a detecção de possíveis perdas auditivas e reabilitação precoce.
Lembre-se:  a melhor estimulação, a que desenvolve não só a linguagem mas o desenvolvimento físico, motor e intelectual de uma criança é o amor de seus pais, o aconchego do lar, a atenção dos monitores e principalmente o brincar muito com seu bebê para que ele sinta que é amado e tenha total confiança em manifestar todas as suas emoções, assegurando uma futura comunicação social de maneira rica. 

O que pode causar distúrbios de comunicação?


Afasia- É um sintoma neurológico decorrente da perda da capacidade de compreender e expressar ideias, podendo afetar também a escrita e fala . Algumas vezes decorrente de um acidente vascular cerebral, de infecções ou manifestações degenerativas. Existem diversos tipos de afasia, mas em todas as formas o sintoma principal é a perda da capacidade de se expressar de maneira clara ou de compreender a linguagem falada e escrita.


Autismo- É um transtorno no desenvolvimento que envolve dificuldade no domínio da comunicação oral, comportamento padrão repetitivo, inabilidade e restrição no convívio social.
O autismo pode se manisfestar de maneira muito diferentes em crianças pequenos, já que alguns deles têm uma capacidade de linguagem desenvolvida e outros não falam.
Pesquisa recente em bebês com autismo mostrou que alguns desenvolveram uma boa habilidade na linguagem devido a atividade neuronal nas áreas do cérebro responsáveis pela linguagem ser similar a das crianças sem a doença.
Ver mais sobre Autismo:
http://luizagosuen.blogspot.com.br/2015/05/autismo-uma-dor-desconhecida-luiza.html

Dislexia - É a dificuldade na aprendizagem da leitura por não conseguir fazer o reconhecimento correspondente do símbolo gráfico e o fonema(som), bem como transferir esse signo escrito(letra) para a verbalização(fala). Acontece também esse fato, quando a pessoa sofreu uma lesão do sistema nervoso central e altera a leitura que ela tinha anteriormente.
Ver mais sobre Dislexia:
http://luizagosuen.blogspot.com.br/2015/04/dislexia-transtorno-de-aprendizagem.html


Disartria - É um transtorno motor devido a uma lesão do sistema nervoso central e periférico. Diferente da Afasia Motora que não é um distúrbio de linguagem e sim de expressão e de compreensão das palavras. 
Na Disartria o paciente tem basicamente dificuldades com a articulação das palavras devido a paralisia nos órgãos de fonação.

Disgrafia- É um dos aspectos da Dislexia. A disgrafia é caracterizada por problemas com a Linguagem Escrita, que dificulta a comunicação de idéias e de conhecimentos através desse específico canal de comunicação. Alguns disgráficos possuem letra mal grafada mas inteligível, porém outros cometem erros e borrões que quase não deixam possibilidade de leitura para sua escrita cursiva, embora eles mesmos sejam capazes de ler o que escreveram e alguns   
podem ter dificuldades em matemática (Discalculia).


Dislalia- É um distúrbio de fala conhecido popularmente como "Cebolinha" por apresentar dificuldade em articular as palavras e pela má pronunciação, seja omitindo, acrescentando, trocando ou distorcendo os fonemas. 

Essa prática pode parecer até "bonitinha" para algumas pessoas, porém não deve ser estimulada por terceiros ou ser motivo de risadas entre irmãos ou coleguinhas de escola e sim, ter apoio de pais e professores para motivar a criança a falar corretamente. 
Caso não consiga procure um fonoaudiólogo.


Fissura labiopalatal- Conhecido popularmente como lábio leporino é uma abertura no lábio, devido a uma má formação do lábio e do palato (céu da boca) do bebê. O lábio e o céu da boca desenvolvem-se separadamente durante os três primeiros meses de gestação. Nas fissuras o lado esquerdo e o direito do lábio não se juntam, ficando uma linha vertical aberta, podendo ocorrer o mesmo com o céu da boca, o que causa problemas na comunicação da linguagem oral. 

A Ecolalia parece ser um dos aspectos mais frequentes observados sobre linguagem de crianças psicóticas. 
É considerada uma característica importante encontrada em crianças com Síndrome de Asperge e com Síndrome de Autismo Infantil. 

Também verificamos em pacientes com Esquizofrenia Catatônica e são repetições automáticas e involuntárias dos vocábulos ou do final de frases que ele ouviu de outras pessoas pronunciando ao seu redor.


A Disfemia conhecida popularmente como "Gagueira" é a mais comum desordem de fluência da fala. Os sintomas são a repetição de sílabas, os prolongamentos de sons e os bloqueios dos movimentos da fala, sobretudo na primeira sílaba no momento em que o fluxo suave de movimentos da fala precisa ser iniciado. É uma alteração no ritmo regular da fala, onde a pessoa pensa mais rápido do que consegue articular as palavras.

**Os tratamentos em geral são realizados por equipe de profissionais em psicologia, psicopedagogia e fonoaudiologia e, em alguns casos com orientação de neurologista.

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